Dilma caiu pelo “conjunto da obra”, dizem Le Monde e Les Echos

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Dilma caiu pelo “conjunto da obra”, dizem Le Monde e Les Echos

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RFI

mediaReprodução Le Monde

Os principais jornais da França desta quinta-feira (1) repercutem o impeachment da presidente Dilma Rousseff no Brasil. Para Le Monde e Les Echos, a presidente perdeu o mandato não pelas pedaladas, mas pelo conjunto de problemas de seu governo. Le Figaro se diz preocupado com a economia brasileira e Libération diz que a democracia do país está fragilizada.

A edição online do jornal Le Monde diz nesta manhã que a dramatização da queda, a denúncia de um golpe de Estado e o passado de resistência à ditadura militar não foram suficientes para Dilma Rousseff obter qualquer gentileza de seus juízes.

O resultado da votação, 61 votos a 20, vai ao encontro do desejo de 60% dos brasileiros que queriam a destituição, diz o Le Monde. O jornal afirma que o motivo principal da destituição foi a manipulação contábil, que teria permitido a Dilma mascarar a realidade do déficit no orçamento do país e assim obter sua reeleição em 2014.

Mas, tanto Le Monde quanto o jornal Les Echos dizem que, na verdade foi o conjunto da política de Dilma que esteve no banco dos réus. Le Monde lista estes problemas: erros táticos, defeitos pessoais, sua incapacidade de governar com um Congresso hostil, assim como a ambiguidade permanente do Partido dos Trabalhadores.

Le Monde não deixa de ironizar um pouco todo o processo, apontando uma "dramatização excessiva" dos brasileiros. O jornal lembra que a advogada de acusação a Dilma, Janaína Paschoal, disse estar inspirada por Deus para salvar o país do sofrimento e que fazia tudo isso pensando nos netos de Dilma. Também lembra que o advogado de Dilma, o ex-ministro José Eduardo Cardozo, foi às lágrimas.

Le Monde estranha o fato de que o escândalo de corrupção na Petrobras esteve pouco presente nos debates e ouve a explicação de Sylvio Costa, do Congresso em Foco: “a oposição dificilmente poderia insistir nesse ponto, já que ela também está envolvida no caso”. A conclusão do Monde é de que, como o Brasil não pode dispor de uma moção de censura ao governante, dispositivo típico dos sistemas parlamentaristas, foi preciso arranjar um crime de responsabilidade.

Le Figaro: Temer no G20

O jornal conservador Le Figaro já quer saber de futuro. O artigo do jornal esquece Dilma e foca em uma péssima notícia que passou quase batida ontem: a queda do PIB brasileiro pelo sexto trimestre consecutivo. Le Figaro diz que, na reunião do G20, na China, Michel Temer vai ter como missão restaurar a imagem do Brasil.

O jornal faz um raio X de um país arruinado economicamente: uma queda de nada menos que 4,9% do PIB em um ano e desemprego recorde, de 11,8 milhões de pessoas, um aumento de 37% também em apenas um ano. O diário diz que o tempo que resta de governo a Temer é muito curto para todas as reformas necessárias e que, mesmo que negue que vá aumentar impostos, será bastante difícil que não o faça, dado o tamanho da recessão.

Libération: democracia fragilizada

Já o jornal econômico Les Echos corrobora a tese do Le Monde, de que Dilma caiu pelo conjunto da obra, que junta recessão, Petrobras e maquiagem das contas. Mas também fala de economia e futuro. O jornal diz que o Brasil precisa de um novo começo, e que Michel Temer parecia comprometido em buscar o equilíbrio das contas. Mas isso não durou muito: o novo presidente já fez diversas concessões para parlamentares, principalmente para obter apoio pelo impeachment.

O jornal de esquerda Libération é mais crítico a todo o processo. Ele diz que Dilma não foi condenada por corrupção, mas por “acrobacias contábeis”, daí o “sentimento de injustiça”. O Libération lembra que o impeachment de Fernando Collor de Mello, em 1992, uniu os brasileiros, mas que o de Dilma, agora, dividiu a população. "Condenar a presidente a uma pena desproporcional constitui um perigoso precedente que fragiliza a democracia", conclui Libération.

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Fonte: Rádio França Internacional

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