Indústria suíça tenta resistir ao franco forte

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Mais de um ano depois da abolição da taxa mínima de câmbio em relação ao euro pelo Banco Central Suíço, a indústria continua a sofrer as consequências negativas do franco forte. Mas, apesar de um contexto difícil e um futuro incerto, muitas pequenas e médias empresas demonstram uma resiliência notável.

Máquinas de alta precisão para fabricar componentes destinados às indústiras tão diversas como a automobilística, a aeronáutica, a relojoaria ou o setor médico: uma especialidade suíça hoje ameaçada pela perda de competividade ligada à valorização do franco suíço. (Pascal Crelier/SIAMS)

Máquinas de alta precisão para fabricar componentes destinados às indústiras tão diversas como a automobilística, a aeronáutica, a relojoaria ou o setor médico: uma especialidade suíça hoje ameaçada pela perda de competividade ligada à valorização do franco suíço.

(Pascal Crelier/SIAMS)

Moutier, pequena cidade industrial no centro do Arco Jurassiano, verdadeiro pulmão da indústria suíça de alta precisão. Com acontece de dois em dois anos, de19 a 22 de abril último ocorreu um dos maiores salões mundiais dedicado exclusivamente aos meios de produção microtécnicos, o SIAMS.

Eram 440 expositores e visitantes provenientes de mais de 30 países, num ambiente cordial e descontraído. Em Moutier, a distância era enorme dos grandes salões da relojoaria de luxo. O que estava em cena eram as máquinas e a tecnologia.

A maioria dos expositores não escondia que o setor industrial suíço vive o período mais complicado de sua história. A causa é a valorização do franco suíço que continua a pesar nas margens de exportação, sobretudo depois a abolição do limite da taxa de câmbio entre em relação ao euro, pelo Banco Central Suíço (BNS).

A esse fator acrescenta-se os problemas de crescimento da China, que afetam em particular a indústria relojoeira. Os fabricantes de máquinas teriam necessidade dos fabricantes de relógios e do mercado nacional para relançar seus negócios, que caíram de quase 7% no ano passado.

Bolha de otimismo

Resta que além das queixas, está no ar um certo vento de otimismo no SAIMS, como constatou seu diretor Pierre-Yves Kohler. “A situação continua muito tensa para muitas empresas, mas fiquei muito surpreso pelo clima de confiança que reinava durante o salão. Desde o abandono da taxa mínima de câmbio, as empresas fizeram esforços importantes para reduzir custos e melhorar a produtividade, revendo sobretudo o processo de produção. Hoje, eles vêm com novas ideias e estão dispostas a luta com a concorrência internacional”.

Para numerosos atores econômicos da região, esse período difícil obriga os empresários a se questionar, a mostrar-se ainda mais criativos que de hábito e, sobretudo, não se acomodar. “A indústria microtécnica da nossa região está habituada a viver ao ritmo das flutuações conjunturais e das crises. E são as crises que permitiram permanecer inovadoras, precisa Gilbert Hürsch, diretor da Câmara econômica Bienne-Seeland.

É exatamente dessa maneira que se vê as coisas na Posalux, uma empresa familiar da região empregando 125 pessoas e que apresentava no salão uma nova tecnologia de micro fabricação de vidro. “Nesse contexto de valorização do franco suíço, é vital apresentar novos produtos e de se abrir aos mercados de nicho. A força de uma PME como a nossa é precisamente de poder responder às necessidades de ponta e garantir uma produção industrial ampla”, explica Marco Nadalin, responsável do desenvolvimento dos negócios na Posalux.

Mesmo se essa técnica particular foi desenvolvida em colaboração com uma universidade canadense, Marco Nadalin estima que “as condições em matéria de inovação são únicas na Suíça”. A parceria entre as universidades, os institutos de pesquisa e a indústria e o apoio financeiro do governo federal através da Comissão pela técnica e a inovação (CTI) são instrumentos que permitem às PME de avançar, apesar da redução dos recursos para pesquisa e desenvolvimento.

Se adaptar às necessidades dos clientes

Muitas empresas não se contentam mais de produzir e vender seus produtos de alto valor agregado nos mercados internacionais. “Hoje oferecemos uma série de serviços anexos que vão da gestão dos fluxos à integração de nossas máquinas nos sistemas informáticos de nossos clientes”, explica Patrick Haegeli, diretor-adjunto da empresa Willemin-Macodel, que emprega 250 pessoas no cantão do Jura (oeste).

Sempre se adaptar às exigências do cliente. Esse também é o credo do grupo LNS, líder mundial de periféricos de máquinas, com sede em Orvin, no cantão de Berna, que tem nove centros de produção no mundo.

Resta que, apesar dessa bolha de otimismo, LNS, como numerosas empresas da região, nada em águas turvas. “As perspectivas são um pouco melhores desde o começo do ano, mas nos falta visibilidade. Nossa agenda de encomendas está cheia para as próximas semanas, depois não sabemos o que nos espera”, afirma o presidente da direção do grupo Gilbert Lile.

LNS teve de demitir 10% de seu pessoal na Suíça no ano passado e adaptar drasticamente sua estrutura de produção. Medidas como aumentar o tempo de trabalho sem aumentar salários continuam em vigor.

Impacto psicológico do franco forte

No fabricante de máquinas Tornos, maior empregador da cidade de Moutier, os estragos foram limitados em 2015, com o faturamento em queda de 6,7%. “A situação continua precária”, afirma Carlos Paredes, responsável do desenvolvimento e das operações na Tornos. “O interesse por nossos produtos e a demanda existem. Mas como o futuro é incerto, nossos clientes hesitam a investir em novas máquinas”, sublinha.

É o paradoxo atual. Os produtos suíços de alta qualidade, inclusive os destinados diretamente ao consumidor final, continuam a ser apreciados no estrangeiro, mas muitos compradores hesitam no momento de passar no caixa. “Não se pode subestimas o impacto psicológico da decisão do Banco Central Suíço (BNS)”, sublinha Marco Nadalin. “Na cabeça das pessoas, os produtos suíços tornaram-se mais caros da noite para o dia. Na realidade, nos adaptamos à nova situação mantendo os preços no mesmo nível. Ainda será preciso muito esforço de comunicação para que a mensagem passe no exterior”.


Adaptação: Claudinê Gonçalves,
swissinfo.ch

Fonte: Rádio Swiss Info

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