Rolling Stone · 5 motivos para ficar fissurado por High Fidelity

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Estrelado por Zoë Kravitz, a adaptação baseada no romance homônimo de Nick Hornby é a ressaca depois do fim de um grande amor ao som de David Bowie

Existem mais jeitos do que se podem contar sobre como alguém pode lidar com o término de um relacionamento. Às vezes você fica inerte, apático, se debruça no choro, se recolhe ou se afunda em excessos, enfim, cada um escolhe — de acordo com o choque — a forma mais confortável para seguir adiante. 

Em High Fidelity, Rob, interpretada por Zoë Kravitz, nos apresenta qual é o top cinco términos mais dolorosos de todos os tempos — enquanto ela se despede do maior deles — e explica como lidou com cada um desses fins. 

Transmitida pela Hulu, a série chegou em fevereiro de 2020 na plataforma, e não é o primeiro retrato dos destroços deixados por alguém. Inspirada no romance homônimo de Nick Hornby (1995), a produção chega 20 anos depois da primeira adaptação, Alta Fidelidade (2000), estrelada por John Cusack.

Enquanto o livro e o filme, dirigido por Stephen Frears, narra um protagonista masculino que, após um término, resolve investigar porque as últimas relações não deram certo, na série, sob o comando de Veronica West e Sarah Kucserka, temos a primeira versão feminina do romance sobre como é lidar com o fim de um grande amor — e tudo que vem depois dele. 

A Rob de Zoë Kravitz, assim como os outros ‘Robs’, é uma grande amante da cultura pop que vive em um apartamento aconchegante, desta vez no Brooklyn, com uma coleção invejável de discos — não tanto de poeira —, e um senso de humor e personalidade guiada por esse universo.

Discussões sobre música, inclusive sobre Os Mutantes e Caetano Veloso, são parte da liga do humor presente na série, principalmente quando amparadas pelos melhores amigos que a acompanham, Simon (David H. Holmes) e Cherise (Da’Vine Joy Randolph). O primeiro, inclusive, integra o Top 5 de Rob

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Com um elenco magnético, roteiro envolvente e curadoria musical impecável, High Fidelity é um retrato palpitante, atual e nostálgico sobre emoções. Sendo assim, aqui estão 5 motivos para você ficar dolorosamente apaixonado pela produção — assim como eu fiquei. Desta vez, não tem aviso sobre spoilers, mas te alerto que se você acredita no amor, é possível que você sofra. Mas vale a pena. 

De David Bowie, Fleetwood Mac a Frank Ocean

Assim como em um dos episódios Rob narra a importância de uma boa playlist, a seleção feita por Nathan Larson, responsável pela trilha, é um dos pontos mais vibrantes da série. Nomes como Frank Zappa, OutKast, Blondie, David Bowie (citado várias vezes ao longo da produção), Bestie Boys, Aretha Franklin, Fleetwood Mac, Jimi Hendrix, Omar Apollo e Frank Ocean acompanham as análises de Rob sobre os relacionamentos passados e põe em evidência o mártir de cada um deles.

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Além disso, os trechos escolhidos de cada faixa saltam aos ouvidos no exato instante em que Rob alcança um entendimento emocional muito profundo. É como se a trama criasse uma relação de simbiose entre a música e o estado emocional da personagem para falar sobre a vida, o amor e as perdas por meio das composições. Eventualmente, isso acontece em boas produções, mas, por se tratar de uma série que traça essa linha entre o amor e a música, como o livro “A Love is A Mix Tape“, de Rob Sheffield, essa combinação é muito mais rica. A trilha é realmente muito bem feita — e está disponível no Spotify na mesma ordem de aparição da série. 


Uma versão do próprio tempo 

High Fidelity, da Hulu, é uma boa opção tanto para quem já estava familiarizado com a história principal que percorre o romance de Nick Hornby ou da adaptação por Alta Fidelidade, quanto para quem não conhecia a história. 

A versão soa como algo nostálgico, mas tem as particularidades do próprio tempo – e que, inclusive, se assemelha com o formato da aclamada série premiada pelo Emmy e Globo de Ouro, Fleabag. Nos próximos tópicos, discorro mais sobre isso. 

No mais, a produção é uma versão interessante, divertida e atualizada. Além do fato da protagonista, agora, ser uma mulher, ela também é sexualmente fluída. Cherise, que na série representa Barry, é uma mulher negra e Simon, equivalente ao Dick dos livros, é homossexual. 

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Sutilezas como stalkear a atual do ex-namorado pelo Instagram e se apaixonar por um artista mais novo e que é um fenômeno musical — algo como um Shawn Mendes ou Harry Styles, mas nem tanto — também aparecem na produção. Essas narrativas beiram o cômico e o trágico o tempo todo. 


Quebra da quarta parede 

Recurso utilizado por Phoebe Waller-Bridge, mente inquieta e criativa por trás dos sucessos Fleabag, Killing Eve e Crashing, a quebra da quarta parede aparece e ao longo de High Fidelity e por muito mais tempo. 

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Nos primeiros minutos da série, ao contrário de Fleabag, Rob não te convida para ser a “confidente” dela, afinal, ela já tem os próprios melhores amigos. Ao longo daqueles 10 episódios, Rob quer que você esteja na mente dela e entenda por que ela pensa daquela forma, por que ela sente o que sente e o que vai fazer com tudo isso. Em High Fidelity, ou você automaticamente se vê na personagem, ou é um espectador fiel e compreensivo por todas as péssimas decisões que ela vai tomar. 


O círculo social de Rob 

Apesar dos outros personagens não se desenvolverem tão intensamente como Rob — afinal, o apego emocional dela ocupa toda a tela —, eles são essenciais para dar a leveza a narrativa.

Seja pelos conflitos de Cherise, que não são focados em romance, mas sim na identidade artística da personagem ou pelos pequenos deslizes de Cameron (Rainbow Sun Francks), o irmão Rob que está prestes a ter o primeiro filho com a esposa e foi responsável pelo emblemático encontro entre a personagem e o grande amor, Mac (Kingsley Ben-Adir).

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Além deles, o sentimento das “primeiras vezes” após um término, é provocado de forma cômica e cativante pela presença de Clyde (Jake Lacy). 


Personagem magnética e complexa 

Como passamos boa parte dos 30 minutos de High Fidelity divagando pela mente e as confissões de Rob, o rosto de Zoë Kravitz é o mais evidente. Na série, a atriz faz um incrível trabalho ao fazer com o que o público se aproxime e entenda todas as oscilações da personagem, quando alegre, triste, apaixonada, em negação, confusa e egoísta. Ainda que seja possível desaprovar as ações dela, existe empatia. E se você minimamente sentir isso, você já comprou a história dela com uma angústia semelhante ao que sentiu pela Fleabag

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Rob revela várias contradições emocionais ao longo da produção e, como anunciam no trailer, sim, ela é apegada demais aos próprios sentimentos, mesmo que isso seja alegar que ela não sente nada. Ao contrário da primeira adaptação, High Fidelity não é uma história de amor com conclusões confortáveis, mas a casa bagunçada com você de ressaca depois de terminar com um grande amor —  ao som de David Bowie

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