Mulheres Superpoderosas

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Mulheres Superpoderosas


Prestes a estrear sua quarta temporada, a série O Negócio, da HBO, foi uma das pioneiras em explorar as nuances do empoderamento feminino; E MAIS: o ótimo momento da ficção nacional na TV com O Mecanismo, Rua Augusta e Borges

por Roberto Larroude

A prostituição pode ser considerada a profissão mais antiga do mundo, mas isso não significa que ela precise ser a mais antiquada. Esse é o ponto de partida da série O Negócio, cuja quarta e última temporada estreia no dia 18 de março na HBO. A história começou, em 2013, com três garotas de programa de São Paulo que passam a aplicar conceitos teóricos de marketing para modernizar a própria área de atuação profissional – e são muito bem-sucedidas. Elas se destacam no mercado e, já a partir da segunda temporada, a Oceano Azul, empresa fundada pela protagonista Karin (interpretada por Rafaela Mandelli) cresce de forma descomunal, a ponto de licenciar produtos e serviços e abrir capital na Bolsa de Valores de São Paulo. Um legítimo “case de sucesso”, como se diz nesse mundo. Mas quanto maior o tamanho do negócio maiores os riscos e os questionamentos pessoais de cada uma das moças (três, inicialmente, mas quatro, a partir do terceiro ano) sobre o que querem da vida. Na temporada passada, a decidida Karin, a sonhadora Luna (Juliana Schalch), a divertida Magali (Michelle Batista) e a novata Mia (Aline Jones) colocaram as engrenagens para girar em um plano para construir um prédio dedicado ao sexo. Para onde esse business poderá crescer além disso?

E MAIS: o ótimo momento da ficção nacional na TV:

Borges: Porta dos Fundos investe em programa de TV sobre vídeos para a internet

Rua Augusta: Protagonizada por Fiorella Mattheis, série analisa a vida noturna da icônica rua de São Paulo

O Mecanismo: Selton Mello estrela nova série nacional da Netflix, que aborda o tema mais quente do país, a corrupção

O sucesso do negócio iniciado por Karin corre em paralelo com o sucesso de O Negócio. Sucesso, esse, que fez com que a atração chegasse e florescesse no mercado internacional, a ponto de a quarta leva de episódios da produção da HBO, criada por Luca Paiva Mello e Rodrigo Castilho com direção geral de Michel Tikhomiroff e dirigida por Julia Jordão, estreasse simultaneamente em 50 países. “Fizemos o lançamento das temporadas anteriores no México, na Argentina, em vários lugares. E a receptividade era imensa, eles amam a série! Nunca imaginei que meu trabalho chegaria a tantos lugares”, conta Rafaela. Aline lembra que recebeu mensagens pelas redes sociais de pessoas querendo imitar o “business plan” da Oceano Azul: “Os fãs são muito calorosos, muito passionais. Cheguei a receber uma mensagem em espanhol falando sobre fazer um prédio como o da série e não entendi se precisam de dicas de engenharia civil ou indicação de construtora”, ri. “Por mais que acreditássemos no projeto e torcêssemos, a gente nunca imaginou que iria tão longe e viraria um produto de exportação que leva o nome do Brasil para tantos países”, complementa Michelle. Ela também recebe feedback dos fãs de uma maneira diferente, já que tem uma irmã gêmea chamada Giselle: “Ela sempre me liga contando que agradeceu vários elogios na rua. Diz que quando dá tempo ela explica; quando não dá, só agradece [risos]”.

Juliana Schalch acredita que o sucesso também tem a ver com a construção das personagens. “Elas têm trajetória pessoal muito forte e não seguem regras, não são submissas e não querem viver sob uma hierarquia ditada por algum homem”, diz. “As questões abordadas me envolveram como mulher e mudaram até a maneira como lido com sexo, com a minha feminilidade. Acho isso uma grande qualidade e um dos principais motivos do sucesso”, teoriza a intérprete de Luna, cuja voz aveludada é responsável pela narração em off nos episódios, recurso que ela adora: “Você está falando diretamente com o espectador e, de uma certa maneira, mostra o ponto de vista do seu personagem. Em alguns momentos é apenas uma narração, em outros a emoção da Luna está mais envolvida. Como atriz, foi uma escola”.

Com o empoderamento feminino em voga, lançar uma série com protagonistas mulheres (extremamente seguras de si e sem constrangimentos em relação à própria sexualidade) estaria em sintonia com o atual momento da sociedade. Mas O Negócio já falava disso “cinco anos atrás”, lembra Michelle, “quando o assunto não estava no auge. E tem tudo a ver com as mulheres que são independentes, que fazem o que querem e têm o direito e o orgulho de escolher o que fazer com seu corpo”, brada. “Quando gravamos a primeira temporada, em meados de 2012, acho que já existia uma fagulha disso, e uma série com três garotas de programa de luxo como protagonistas era uma aposta para a TV a cabo. Acho que foi uma grande cartada”, elogia Juliana. Rafaela destaca que, apesar de de o forte e óbvio apelo que há para o público masculino, com mulheres lindas em cenas picantes em todos os capítulos, a série é convidativa para as mulheres, “exatamente por causa da força, independência e poder de decisão dessas personagens”, justifica. “Elas fazem o que querem, quando querem. São donas da própria vida. As mulheres, inclusive, nos abordam muito mais que os homens.” A atriz que dá vida à Mia é mais uma das que passaram a refletir a respeito da própria vida a partir da série. “Vim de uma região bem conservadora do Sul do Brasil, onde existem algumas ideias ultrapassadas, como não poder transar no primeiro encontro, sabe? E depois de O Negócio pensei: ‘Faço o que quiser com meu corpo, eu transo na hora que quiser e isso não vai dizer nada sobre o meu caráter, sobre a minha conduta como mulher’. A série manda o recado de que podemos fazer o que quisermos com o nosso corpo”, diz.

Falar sobre uma série cuja temática principal é a prostituição nos remete imediatamente aos clichês já vistos em tantas outras produções – é uma linha muito tênue para cair na mesmice, e há todo um cuidado para fugir disso. “A questão é a dose, a medida. Elas não podem deixar de ser mulheres bonitas e sensuais, mas não podem cair na vulgaridade. É a medida daquilo que é elegante. Essas são mulheres colocadas num lugar de exclusividade. A série explora a sensualidade, tem muitas cenas de sexo, então ter esse lado elegante dá um conforto”, afirma Michelle. “Existe todo o outro lado, mais comum, que é completamente diferente desse. Mas a prostituição de alto luxo é aquela que a gente não vê, que você encontra na academia ou que pode ser a [profissão] da sua vizinha, aquela que é bonita, inteligente, bem-sucedida, mas você não tem ideia do que ela faz da vida”, complementa. Juliana afirma que o principal é que “tiveram a preocupação de não faze uma série ‘para homens’. É delicada a maneira como tudo é abordado, o jeito como são filmadas as cenas de sexo e como retratam esse mundo delas. Talvez por isso tenha atraído tantas mulheres. O sexo é absolutamente natural na vida do ser humano e a série mostra isso com naturalidade. Era um assunto tratado com tanto pudor que virou um tabu”.

Embora o elenco feminino seja responsável por carregar a maior parte da série, ela conta com diversos personagens masculinos que são imprescindíveis para o desenvolvimento da história, e nesta quarta temporada há alguns novos que terão a função de esquentar a discussão. Um deles é Eduardo Moscovis, que dá vida a um conservador âncora de TV chamado Álvaro Sintra. O outro é Dalton Vigh, que encarna o vaidoso promotor que defende “a moral e os bons costumes” Rodolfo Sherman. Mas é um veterano quem rouba a cena desde o começo de O Negócio. Brilhantemente interpretado pelo ator Guilherme Weber, o “booker” (vulgo cafetão) Ariel é um vilão que se transforma em anti-herói ao longo das temporadas. “Quem a Karin pensa que é? O Steve Jobs da prostituição? O Zuckerberg da putaria?”, foi a reação dele ao saber que sua “funcionária” trabalharia por conta própria e trataria o próprio corpo como uma empresa. “Ele é uma peça-chave da estrutura, a série não existiria sem o Gui Weber. “Sexo é sexo, também não tem o que inventar”, diz Ariel em algum dos 39 episódios já exibidos. Mas, como a série já bem provou, tem, sim. E, se existe um futuro para esse universo pós-O Negócio, certamente uma boa opção seria um spin-off focado nele.

Especulações à parte, a realidade com a qual as atrizes têm que lidar, no momento, é a de que o longo período que passaram dividindo cena e dando vida a essas jovens garotas de programa está chegando ao fim. “Desde o dia em que li o roteiro me apaixonei pela Karin. Ela é obsessivamente ‘workaholic’ a ponto de impedir que a vida pessoal dela tenha a mesma importância que o trabalho. Ela me trouxe muita coragem, determinação e objetividade. Vai ser bem difícil me despedir dela”, encerra Rafaela.

O Que Vem Por Aí

O QUE: quarta temporada e O Negócio
QUANDO: domingo, às 21h, na HBO

Karin vai lançar um livro revelando sua surpreendente história de sucesso. Mas antes que isso aconteça as quatro precisam contar para seus respectivos pais, dotados de diferentes graus de conservadorismo e hipocrisia, a verdade sobre com o que trabalham. Fora do âmbito familiar, também não está fácil divulgar o livro e todas as informações chocantes contidas nele. Em meio a críticas negativas, Karin acaba em um programa de entrevistas com o personagem de Eduardo Moscovis, um homem por quem ela não imaginaria se interessar. Luna e o namorado de longa data, Oscar (Gabriel Godoy), vão se casar, mas um amigo golpista dele (interpretado por Rodrigo Pandolfo) reaparece com uma proposta que pode atrapalhar os planos. Enquanto isso, um velho amor de Luna volta à cena. Já Magali, que desde a terceira temporada está com o coração confuso, continua a relação com Sabrina (Gabriela Cerqueira), mas ainda sente falta do Zanini (Kauê Telloli). Mia mantém contato com o bilionário Giancarlo (Raffaele Casuccio), mas ele gosta de viver em um limite que ela não quer ultrapassar. Por fim, Ariel tenta ajudar seu “filho” Eric (João Côrtez), que está com depressão, mas utilizando seus métodos duvidosos de sempre.



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