como histórias criadas por fãs venceram a barreira teen e bombaram em Hollywood com ’50 Tons de Cinza’ e ‘After’

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O sucesso das fanfics ultrapassou as barreiras do universo online e criou um mercado milionário de filmes e livros

O termo fanfiction é usado para denominar histórias de ficção criadas por fãs. Com enredos e personagens baseados em bandas, atores, livros, filmes, peças de teatro e mais, esses textos se popularizaram junto à internet nos anos 1990 e ganharam uma proporção ainda maior recentemente, quando saíram do universo online.

Cinquenta Tons de Cinza encerrou a saga no ano de 2018 com arrecadação de bilheteria de mais US$370 milhões – contando apenas o último longa. After, um livro que nasceu de uma fanfic sobre One Direction, está prestes a ganhar uma sequência, depois de ter sido o filme independente mais lucrativo de 2019. 

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Qual a história das fanfics e como essas narrativas criadas por fãs venceram a barreira teen e bombaram em Hollywood?

História

As fanfics tiveram um grande boom no Brasil nos anos 1990. Graças à popularização da internet e ao sucesso da saga Harry Potter, muitos fãs se sentiram inspirados para escrever continuações ou histórias sobre os personagens dos livros.

A internet é um player importante nesse cenário de popularização das fanfics por oferecer a oportunidade ao consumidor de se transformar no produtor, mas o estilo literário já existia muito antes do surgimento do universo online.

Alguns pesquisadores acreditam que o nascimento da fanfic remete à mesma origem do romance brasileiro: os folhetins do século XIX. As narrativas fictícias que eram distribuídas periodicamente no jornal com o intuito de entreter poderiam ser completamente novas ou adaptações de romances europeus, fazendo um paralelo com as fanfics no quesito de conteúdo e distribuição.

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Mais que isso, porém, os folhetins ajudaram a popularizar a literatura no século XIX no Brasil, quando grande parte da população não tinha acesso a livros ou sequer era alfabetizada. Da mesma forma, ao considerar o devido contraste temporal, este estilo criado por fãs também contribuiu para proporcionar uma nova dinâmica e ser acessível à população.

Se você ainda acha loucura comparar histórias como Cinquenta Tons de Cinza com folhetins do século XIX, talvez essa curiosidade tire seu cepticismo. Você sabia que Romeu e Julieta é, na verdade, uma fanfic escrita por Shakespeare?

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William Shakespeare se inspirou no poema A Trágica História de Romeu e Julieta, publicado em 1582, para escrever o romance. O dramaturgo usou personagens da versão original de Arthur Brooke, mas deu a própria cara à obra de sucesso. Da mesma forma fizeram E.L James, Cassandra Clare e Anna Todd na contemporaneidade. 

De Fanfic à Best-Seller

Uma das fanfics mais bem sucedidas, que já foi citada anteriormente, é a trilogia de Cinquenta Tons de Cinza. Quando E.L James começou a escrever a história, Anastasia Stelle e Christian Grey eram, na verdade, Bella e Edward, os protagonistas de Crepúsculo.

Além dos nomes, as personalidades e a história são muito semelhantes – tirando toda a parte do vampirismo. A fragilidade de Bella, a brutalidade de Edward e o romance baseado na crença de que a mulher pode “salvar” o homem estão presentes na saga de E.L James.

A fanfic fez tanto sucesso na internet que se tornou uma trilogia de livros: Cinquenta Tons de Cinza,Cinquenta Tons Mais Escuros e Cinquenta Tons de Liberdade. E o sucesso apenas cresceu com o lançamento dos filmes.

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Segundo informa o Estadão, no Brasil, as vendas do livro chegaram a 260 mil cópias em apenas 40 dias de lançamento. Logo, os direitos do filme foram comprados por Hollywood, com o primeiro longa arrecadando mais de US$570 milhões de dólares em bilheteria.

A saga de Instrumentos Mortais, de Cassandra Clare, não é uma fanfic em si. Apesar de vários rumores afirmando que a autora escreveu os livros baseados no universo de Harry Potter,  tudo não passa de um mal-entendido.

Na verdade, a autora ficou famosa na internet escrevendo fanfics de Harry Potter e demonstrou várias vezes o apreço por J.K Rowling e Stephanie Meyer. Graças ao sucesso dessas narrativas, a escritora conseguiu superar a barreira do universo teen online e publicou a saga original Instrumentos Mortais

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Os livros contam a história de uma adolescente que acreditava ser normal até presenciar um assassinato e descobrir, sem querer, um mundo de lobisomens, vampiros, caçadores de sombras e outros seres sobrenaturais.

A saga completa vendeu cerca de 15 milhões de exemplares mundialmente. Instrumentos Mortais também ganhou filme e até uma série.

Mais recentemente, outra fanfic está em grande evidência na mídia devido ao futuro lançamento de uma sequência. After, livro best-seller de Anna Todd, nasceu no WattPad como uma história sobre os integrantes do One Direction.

Todd começou a escrever After pelo celular, publicando um capítulo por dia no aplicativo do Wattpad durante todo o ano de 2013. A história rapidamente se tornou a mais lida da plataforma, batendo o recorde de 1,6 bilhão de leituras.

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A edição impressa vendeu mais de 11 milhões de exemplares, e chamou a atenção das produtoras de cinema. Os direitos de adaptação chegaram a ser comprados pela Paramount Pictures, que não seguiu com os planos.

O primeiro filme de After foi produzido pela Aviron Pictures com direção de Jenny Gage e se tornou o longa independente mais lucrativo de 2019, com bilheteria mundial de mais de U$69 milhões. Agora, a produtora se prepara para lançar a sequência da história escrita por Anna Todd. After 2: Depois da Verdade está marcado para estrear no dia 2 de setembro.

E as críticas?

Embora seja impossível questionar o sucesso de vendas e bilheteria que foram Cinquenta Tons de Cinza e After, ainda existe uma barreira de críticos do cinema que as fanfics não conseguiram impressionar. 

O primeiro filme de Cinquenta Tons de Cinza conseguiu uma avaliação de 25% no Rotten Tomatoes, o segundo recebeu 11% e o último, 12%. Entre as muitas críticas técnicas de atuação e roteiro, existem também aquelas que tratam de um problema mais profundo desse tipo de fanfic: o machismo e abuso.

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Tanto Hardin Scott, protagonista de After, quanto Christian Grey, são retratados como parceiros dos sonhos, romantizados pelas adolescentes. Mas, um olhar mais crítico, enxerga o comportamento abusivo dos namorados de Tessa e Anastasia.

O clichê do romance em que a protagonista torna o homem uma pessoa melhor também não agradou muito os críticos. O primeiro filme de After conseguiu uma pontuação de 19% no Rotten Tomatoes, agora precisamos esperar para ver se a sequência corrigirá ou repetirá os mesmos erros.


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