Temer divide página no Le Monde com professor que o acusa de golpe

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Temer divide página no Le Monde com professor que o acusa de golpe

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RFI

mediaArtigos de Michel Temer e Laurent Vidal no Le Monde desta quarta-feira.
Reprodução

O jornal Le Monde que chegou às bancas da França na tarde desta quarta-feira (13) traz um artigo do presidente em exercício, Michel Temer, sobre as Olimpíadas, em que ele assegura que a democracia brasileira “está consolidada”. O texto é publicado lado a lado ao do historiador francês Laurent Vidal, que faz um contraponto, dizendo que os Jogos “ocultam a tragédia política” do Brasil.

Protocolar, o artigo assinado por Michel Temer só menciona questões políticas em uma linha, quando diz que “os Jogos revelarão ao mundo uma nação cuja democracia está consolidada e que é uma das principais economias mundiais”.

Temer dedica parte do artigo a garantir que insegurança e doenças não serão um problema para os visitantes. “O país preparou um programa de segurança sólido, que mobiliza 85 mil profissionais de diferentes forças dos governos federal, estadual e municipal”, diz o texto. Sobre epidemias, Temer diz que pode “garantir que o risco de surgirem casos de vírus da zika é praticamente inexistente”. “Historicamente, a taxa de doenças transmissíveis pelo Aedes aegypti durante o inverno austral é bastante pequena”, assegura.

O artigo também ressalta que 60% dos investimentos em equipamentos olímpicos teriam sido realizados pela iniciativa privada, o que representaria R$ 7 bilhões (€ 1,9 bilhão), e que a parte custeada pelos setor público tem por objetivo deixar uma herança de políticas públicas, “uma rede nacional de centros de treinamento”.

Contraponto

Dividindo a página Debates e análises do Le Monde, o historiador francês Laurent Vidal – especialista em questões brasileiras – traz um artigo repleto de pesquisa histórica que contrasta com a linguagem simples do texto do presidente interino. Laurent diz que a destituição de Dilma Rousseff remete à “forma clássica de golpe de Estado”. “O golpe revela uma encenação, sem que o recurso à violência seja necessário”, diz Vidal.

O professor da Universidade de La Rochelle diz que “os Jogos servirão para encenar um desfecho feliz” para a crise política no país. Vidal reconhece que o uso da palavra golpe “pode soar estranho, já que o processo respeitou, etapa por etapa, as leis constitucionais, contando com aval do Supremo Tribunal Federal”. Este respeito ao processo legal, segundo o professor, é o que teria levado o próprio Le Monde a publicar um editorial, em 30 março, afirmando “Isso não é um golpe de Estado”.

Em seguida, Vidal propõe um percurso sobre o significado da expressão “golpe de Estado” ao longo da história, desde as primeiras aparições, em 1598, passando pelo texto “Considerações políticas sobre os Golpes de Estado”, de Gabriel Naudé, publicado em 1639.

O trajeto acadêmico proposto pelo professor chega finalmente à definição de Antoine de Furetière, que a integra a seu dicionário em 1684 como “ação heroica, arrojada ou extraordinária, para o bem ou para o mal”, dando como exemplo a tomada de La Rochelle em 1628.

Vidal diz que “dessa forma, no século 17, o Golpe de Estado era uma dramaturgia, que leva ao limite a teatralização do poder”, e conclui: “é nessa acepção que é preciso conceber o que se passa hoje no Brasil, onde encontroamos todos os ingredientes de uma tragédia do Grande Século”.

A dramatização, segundo o professor francês, passa pelas palavras que a grande imprensa, “principalmente Globo e Veja”, teriam divulgado após a reeleição de Dilma Rousseff, “criando um retrato de um país dominado por um partido populista e corrupto”.

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Fonte: Rádio França Internacional

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