SíRIA/GUERRA CIVIL: Exército sírio retoma refúgio da Al-Qaeda na região de Aleppo

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Síria/Guerra civil –

Artigo publicado em 12 de Novembro de 2015 –
Atualizado em 12 de Novembro de 2015

Exército sírio retoma refúgio da Al-Qaeda na região de Aleppo

Peshmergas curdas tomam posição nas cercanias da cidade de Sinjar, no IraquePeshmergas curdas tomam posição nas cercanias da cidade de Sinjar, no Iraque REUTERS/Ari Jalal

RFI

Nesta quinta-feira (12), as forças do regime sírio, apoiadas por bombardeios russos, retomaram o principal refúgio da Al-Nusra, braço sírio da rede Al-Qaeda, na região de Aleppo. A cidade de al-Hader fica a apenas 10 km da estrada internacional que liga Aleppo a Homs e é controlada pela organização ultrarradical desde novembro de 2012. De acordo com a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), "os combates continuam contra islamitas e jihadistas da frente al-Nusra, com vítimas dos dois lados".

Essa é a segunda vitória importante do exército de Damasco nas últimas 48 horas na região. Na terça-feira, forças de Bashar al-Assad conseguiram desalojar combatentes do grupo Estado Islâmico (EI) que ocupavam há dois anos o aeroporto de Kweires. Mais de 100 homens morreram na operação, a maioria jihadistas, mas também alguns soldados e milicianos favoráveis ao regime de Damasco, informou o OSDH.

Para Patrick Cockburn, um dos maiores especialistas ocidentais no Oriente Médio, a reconquista de Aleppo pode desequilibrar o conflito a favor de al-Assad e seus alidados. Na semana passada, o ex-correspondente do Financial Times na região e autor do livro "A Origem do Estado Islâmico" publicou um artigo na London Book Review, em que expõe uma mudança no equilíbrio de forças na guerra síria depois do início da intervenção da Rússia. De acordo com ele, a força aérea russa pôde atuar no território sírio com muito mais eficácia do que a coalizão ocidental, pelo simples fato de que falta apoio terrestre aos bombardeios liderados pelos Estados Unidos.

Por uma questão geopolítica – a manutenção das boas relações com potências sunitas, como a Arábia Saudita e o Catar -, as forças ocidentais evitam a colaboração com qualquer unidade que possa beneficiar o presidente alauita Bashar al-Assad, o que restringe as possíveis colaborações na Síria às milícias curdas. O problema é que esses grupos independentistas travam não só uma guerra contra o grupo Estado Islâmico, mas também por sua autonomia política. Ou seja, eles não levam os combates para longe do chamado Curdistão sírio.

Aliados às tropas regulares de Bashar al-Assad, além de milícias afiliadas, unidades do Hezbollah e mesmo da guarda revolucionária iraniana, os russos têm uma colaboração terrestre muito superior àquela de que dispõe a coalizão. Isso permite uma sinalização mais precisa de alvos potenciais. De acordo com Cockburn, essa é uma das principais razões pelas quais intervenção russa coloca, pela primeira vez, um verdadeiro entrave ao avanço jihadista – ainda que Moscou estenda sua ofensiva a todas as forças de oposição ao regime de Damasco. Embora os Estados Unidos tenham divulgado um grande recuo territorial do grupo Estado Islâmico, depois do início da operação ocidental, a organização foi capaz de tomar cidades importantes como Palmira, na Síria, e Ramadi, no Iraque.

Corte no abastecimento do EI

No entanto, o avanço russo não significa que a pressão da coalizão tenha diminuído. Também nesta quinta-feira, as forças curdas iraquianas, apoiadas pela aviação americana, lançaram uma ofensiva contra a organização para retomar Sinjar, cidade estratégica na fronteira entre o Iraque e a Síria. A localidade é um ponto de passagem fundamental para o envio de homens e material entre os dois países e perdê-la seria um golpe duríssimo para os jihadistas. De acordo com o porta-voz das forças ocidentais, o coronel americano Steven Warren, essa operação obriga o EI a "tomar decisões difíceis sobre qual frente de batalha priorizar".

O ataque começou às 7h da manhã e envolve até 7,5 mil combatentes curdos. No início da tarde, já era possível ver colunas de fumaça se erguendo de vários bairros de Sinjar e os curdos haviam estabelecido uma zona tampão ao longo da rodovia 47, que liga Rakka a Mossul. Apesar de sua clara vantagem numérica (os jihadistas têm entre 300 e 400 homens no local), os peshmergas enfrentam uma série de armadilhas, como bombas e minas terrestres de fabricação artesanal. Por isso, uma fonte militar americana estima que a operação deva durar entre três e quatro dias, além de uma semana suplementar para a limpeza e a reorganização cidade.

A conquista de Sinjar, além de sua importância estratégica, tem um forte significado simbólico. Isso porque a tomada dessa localidade em agosto de 2014 pelo grupo Estado Islâmico chocou o mundo por conta da brutalidade contra a população de língua curda yazidi, considerada herege pelos ultrarradicais. Centenas de homens foram executados e as mulheres vendidas como esposas para jihadistas ou escravas sexuais. A Organização das Nações Unidas classificou essa ação como "tentativa de genocídio".

A operação de retomada de Sinjar foi anunciada há várias semanas, mas não pôde ser iniciada por conta das condições meteorológicas e das tensões entre forças curdas e yazidis. Estes últimos desconfiam das unidades ligadas ao Partido Democrático do Curdistão (PDK), que não intervieram durante o ataque do grupo Estado Islâmico. Coube a uma unidade do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK, classificado como terrorista pelos Estados Unidos e a Otan) ajudar milhares de pessoas a fugir da cidade e abrigá-las em campos de refugiados da região. Foi também o PKK quem treinou uma milícia yazidi na região, que agora luta pela reconquista de Sindjar.

Ameaça terrorista

Diante dos reveses, o grupo Estado Islâmico investe em suas ações propagandísticas. Nesta quinta-feira, a organização SITE, especializada em monitorar as atividades islamitas na internet, anunciou que a organização jihadista gravou um novo vídeo, ameaçando atacar a Rússia "muito em breve". O vídeo, divulgado em russo pelo braço midiático da organização, o centro Al Hayat, afirma que o "sangue russo correrá como um oceano".

Essa não é a primeira vez que os jihadistas ameaçam a Rússia ou os Estados Unidos de represálias pelos bombardeios na Síria. O grupo pode inclusive ter passado às vias de fato. Ainda que o Kremlin alegue falhas técnicas para a queda de um avião russo na península do Sinai no fim de outubro, a tragédia foi reivindicada como atentado pelo braço egípcio do grupo Estado Islâmico e os serviços de inteligência ocidental estimam que ela possa ter sido causada por uma bomba.

Fonte: Rádio França Internacional

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