Nos EUA, juiz Moro defende procedimento de investigação na Lava Jato

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Lava jato

Nos EUA, juiz Moro defende procedimento de investigação na Lava Jato

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RFI

mediaEm Washington, Sérgio Moro fala sobre corrupção no Brasil.
Ligia Hougland/RFI

O juiz Sergio Moro disse nesta quinta-feira (14), no Woodrow Wilson Center, em Washington, que não é um juiz investigativo, pois essa função, diferente da França, por exemplo, não existe no Brasil.

De Washington, Lígia Hougland

Moro explicou detalhadamente ao público como funciona o sistema judiciário brasileiro. Apesar da audiência ser majoritariamente composta de brasileiros, o juiz leu, com forte sotaque e pequenos problemas de pronúncia e vocabulário, seus comentários que foram previamente redigidos em inglês.

Moro enfatizou que o Judiciário brasileiro lida com uma carga extremamente pesada de casos, o que impede um andamento mais rápido dos processos. Ele também explicou o que é a Petrobras e o papel dessa e de construtoras, além das funções do doleiro Alberto Youssef e do engenheiro da estatal Paulo Roberto Costa no esquema de propinas que envolvia políticos, no contexto da Operação Lava Jato.

O juiz disse que o fato de políticos continuarem a receber propinas mesmo quando as investigações já estavam em andamento é "perturbador" e falou que um ambiente de corrupção sistêmica foi revelado pelas investigações. Ele disse que, apesar de casos em corrupção acontecerem no mundo todo, no Brasil a prática se tornou disseminada.

"Liberdade de imprensa deve ser garantida", diz juiz

Moro também disse que um ambiente de corrupção sistêmica afasta investidores e corrói a confiança na democracia. Para combater isso, o sistema judiciário tem de funcionar, independentemente das condições sociais ou econômicas dos envolvidos.

A justiça não pode ser uma fantasia, que nunca termina com a punição dos criminosos. O governo é o principal responsável por criar um ambiente livre de corrupção, ao servir como exemplo. A liberdade da imprensa também em deve ser garantida e, desde o início da investigação, a equipe da Lava Jato foi conduzida "às claras", sempre compartilhando as informações com o público.

Apenas um manifestante contra Moro tentou interromper a palestra do juiz, mas foi rapidamente retirado do auditório, sem causar comoção.

Moro diz que o fato de o problema da corrupção sistêmica ter definitivamente entrado para o debate nacional é algo "muito positivo" e tem confiança no Judiciário na continuidade da luta contra a corrupção no país. No entanto, ele disse que o sistema de foro privilegiado "não tem funcionado" no Brasil.

Perguntado se ele é parcial ao PSDB, Moro disse que não há prova de que o partido tenha recebido dinheiro da Petrobras e, inclusive, o PSDB fazia oposição ao PT, partido que nomeou a chefia da estatal envolvida das investigações da Lava Jato.

"Se você comete um crime, a lei é uma consequência. Não interessa para o juiz se o culpado é de direita ou de esquerda", disse Moro.

Moro ri de boatos de que teria sido treinado pela CIA

Sobre a acusação comumente divulgada pelos inimigos de Moro de que ele teria sido treinado pela CIA, o juiz brincou que "parece que estamos vivendo na Guerra Fria", mas preferiu não fazer mais comentários sobre o boato.

Indagado sobre a própria segurança, o juiz desconversou de modo brincalhão dizendo que "há uma regra que ninguém deve falar sobre sua segurança". Mas garantiu que, até agora, tem conseguido fazer seu trabalho, sem sofrer ameaça direta.

O juiz diz que depois da conclusão da Lava Jato ele pretende simplesmente tirar férias e continuar sua carreira de juiz.

Também participaram do evento o juiz federal Peter Messitte, do Estado de Maryland, e Anthony Harrington, que já foi embaixador dos EUA no Brasil, que elogiaram com entusiasmo a atuação de Moro na Lava Jato.

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Fonte: Rádio França Internacional

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