Mulheres migrantes vivem inferno na Líbia, relata jornal Le Monde

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Mulheres migrantes vivem inferno na Líbia, relata jornal Le Monde

mediaReprodução da foto do artigo do jornal Le Monde mostra uma imigrante nigeriana recolhida pelo navio Aquarius.
Anna Psaroudaki

A enviada especial do jornal francês à costa italiana, Maryline Baumard, subiu a bordo do navio de salvamento Aquarius, na costa do Mar Mediterrâneo. Ela conversou com mulheres que foram vítimas de violência sexual na Líbia, rota obrigatória para chegarem à Europa.

A reportagem publicada na edição antecipada desta sexta-feira (9) confirma uma denúncia que vem sendo feita por centenas de mulheres africanas que deixaram tudo para trás, inclusive filhos e maridos, para tentar uma vida melhor. Vindas do Mali, Gâmbia, Senegal, Eritreia ou Sudão, quase todas foram agredidas na Líbia. Só em 2016, mais de 5.650 mulheres foram socorridas em embarcações precárias no norte daquele país.

A situação é tão traumática que uma médica, uma advogada e uma parteira da ONG francesa MSF (Médicos Sem Fronteiras) concebeu um espaço isolado, apenas para mulheres, onde nenhum homem é autorizado a entrar. "Elas têm vergonha, ouviram que são responsáveis pelo que lhes aconteceu porque atravessaram o deserto e pararam na Líbia para depois tentar chegar à Europa pelo mar, seguindo a rota 'das mulheres de pouca virtude'. Elas ouvem o tempo todo que vêm à Europa para se prostituir e que sofrer violência é culpa delas", conta a advogada da MSF, Hassiba Jadj Sahraoui, ao Le Monde.

O primeiro testemunho é de Noura, da Costa do Marfim, seguido pelo de Ruth e muitas outras.

"Mercadoria humana" lucrativa

De toques e carícias abusivas a estupros filmados que os criminosos ameaçam enviar às famílias em troca de dinheiro, as violências sofridas pelas mulheres na Líbia é sem fim, inclusive com o consentimento dos passadores, que oferecem um "serviço completo" de hospedagem, transporte até o mar e embarque.

Com a desordem que reina no país e a guerra entre as milícias para controlar esse lucrativo mercado, os sequestros são frequentes. As mulheres, diz o jornal, são vendidas por cerca de € 1 mil e obrigadas a se prostituir.

Le Monde informa também que a ONG Iniciativa Mundial contra o Crime Organizado Transnacional, sediada na Suíça, se preocupa com o número de nigerianas que se prostituem atualmente na Itália, que hoje chega a 10.000.

O texto do jornal francês termina de forma chocante: na embarcação recuperada em alto mar pelo navio Aquarius em 20 de julho passado, havia 22 cadáveres de mulheres. A maioria era africana e foi sufocada e afogada pelos outros imigrantes quando a água começou a entrar no barco. As sobreviventes sequer conheciam seus nomes: "eram apenas camaradas de viagem, companheiras de infortúnio mortas antes de chegar à Itália".

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Fonte: Rádio França Internacional

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