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Analistas internacionais examinam influência de Olimpíada no impeachment
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Aprovação definitiva do processo de impeachment no Senado foi no dia 10 de agosto. Votação final ocorre a partir do dia 25 de agosto.
REUTERS/Adriano Machado
Os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro encantam os brasileiros neste mês de agosto e, enquanto isso, o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff avança no Senado. Mas, por mais que as atenções estejam voltadas para as competições, a realização das Olimpíadas exatamente no mesmo período em que o país define a saída da petista do poder não influencia no contexto político, na opinião de analistas internacionais ouvidos pela RFI.
“A maioria dos senadores já está com o voto definido e está num esforço para finalizar a queda da presidente. A repercussão internacional sobre a política durante os Jogos está bem pequena, o que ajuda a não impactar no impeachment”, avalia o cientista político Frédéric Louault, especialista em política brasileira da Universidade Livre de Bruxelas e pesquisador da Sciences Po, de Paris.
Com as competições dominando a imprensa e o país interessado em ver o desempenho do Rio de Janeiro para sediar os Jogos, menos brasileiros estão acompanhando a fase final da destituição da presidente, ao contrário da primeira fase do processo. Esse contexto contribui para consolidar a ideia de que a saída de Dilma está praticamente consumada, na visão de Anthony Pereira, diretor do Instituto Brasil do King's College de Londres.
“Os Jogos dispersam a atenção e distraem o país, o que cria um clima de inevitabilidade do processo de impeachment”, percebe Pereira, ressaltando que a própria campanha em defesa da petista está enfraquecida e dividida. O PT não apoiou a ideia de realização de um plebiscito sobre a realização de novas eleições, uma das peças-chave da carta aos brasileiros que a presidente afastada apresentará na semana que vem. “Essas divisões internas atrapalham uma defesa mais robusta de Dilma”, frisa o cientista político britânico.
Pessimismo generalizado
Louault lembra que muitos brasileiros contrários ao impeachment têm aproveitado o momento para protestar. No entanto, “essas manifestações não tiveram força suficiente para desestabilizar o processo em andamento”. “O pessimismo é geral, até dentro do PT”, nota o pesquisador francês.
Muitos brasileiros aproveitam os Jogos para protestar contra Michel Temer, mas manifestações não tem peso necessário para bloquear impeachment.
REUTERS/Bruno Kelly
Já o suíço Rolf Rauschenbach, especialista em processos democráticos, considera que a Olimpíada favorece “um pouco” àqueles que desejam a saída definitiva da presidente, mas não acha que a ocorrência dos Jogos no mesmo período terá peso no resultado final da votação. Para ele, nem o PT, nem a oposição conseguirão tirar proveito da realização dos Jogos no país – um cenário impensável dois anos atrás. “Enquanto os Jogos Olímpicos correm bem, não têm influencia nenhuma – nem Lula, nem Dilma, nem Temer são criticados nem elogiados pela realização da Olimpíada no Rio de Janeiro”, frisa o pesquisador do Centro Latino-americano da Universidade de Saint-Gallen.
Retorno das notícias positivas
Outro fator que fortalece a noção de que o impeachment é apenas uma questão de tempo é a inversão da agenda negativa que dominava a imprensa antes do afastamento da petista. Desde que Michel Temer assumiu a presidência, as notícias positivas voltaram às manchetes.
Pereira ressalta que, em inglês, há uma expressão que define bem esse contexto: establishment stitch up. “É um cenário montado com grupos de interesse poderosos, dando uma sensação de que os fins justificavam os meios. No Brasil, tirar a presidente era o objetivo mais importante”, destaca o britânico. “Tenho a impressão de que todos os atores importantes começaram com este fim e inventaram uma maneira de chegar lá. Essa improvisação não deixa de ser fascinante: o talento dos políticos brasileiros em conseguir, de uma maneira improvisada, chegar ao fim desejado”, ironiza o diretor do King's College.
Os analistas frisam que essa lua de mel com o governo Temer tem, porém, data para acabar. “O fundo do poço pode até ter sido alcançado, mas o Brasil ainda não começou a sair dele. Muitas reformas e promessas de Temer não foram concretizadas, como o ajuste fiscal”, afirma Rauschenbach. “Não houve avanços substanciais em nenhuma área, e ele logo vai ser cobrado por causa disso.”
Denúncias contra Serra e Temer esvaziadas
Ainda em meio à Olimpíada, vazamentos da Operação Lava Jato indicam que o chanceler interino, José Serra, recebeu R$ 23 milhões de caixa 2 da Odebrecht para a sua campanha à presidência em 2010. A denúncia, publicada na Folha de S. Paulo de 7 de agosto, no auge da euforia pelo início dos Jogos, teve fraca repercussão. Da mesma forma, a notícia de que o presidente interino Michel Temer pediu "apoio financeiro" para o PMDB à empreiteira, num total de R$ 10 milhões em 2014, não teve maiores impactos.
“A divulgação dessas informações durante os Jogos pode ser uma estratégia para reduzir o efeito que as mesmas notícias teriam em setembro, depois das competições e logo antes das eleições municipais. O impacto também seria diferente se tivessem sido publicadas às vésperas da votação final do impeachment”, indica Louault.
Pereira, por sua vez, avalia que os Jogos reduzem a atenção do público para esse tipo de notícia mas, principalmente, “há pouco apetite para tirar outro presidente” do poder. “A repetição do processo que retirou Dilma seria demais e enfraqueceria ainda mais as instituições. Por isso, agora Temer está, de certa forma, blindado”, diz o cientista político de Londres.
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Fonte: Rádio França Internacional