Retrospectiva 2016: Países de Língua Portuguesa – Parte III

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28/12/2016

Retrospectiva 2016: Países de Língua Portuguesa – Parte III

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No último capítulo da série de três reportagens especiais, lembramos os fatos que marcaram Portugal e Timor-Leste no âmbito das Nações Unidas; destacamos também a seleção do primeiro lusófono a ser secretário-geral da ONU; António Guterres começa no cargo em 1º de janeiro de 2017.

Foto: Associação Portuguesa de Falcoaria

Laura Gelbert, da ONU News em Nova York.

A ONU News encerra a retrospectiva de fatos que marcaram o ano de países lusófonos no contexto das Nações Unidas. Neste capítulo, falamos sobre Portugal e Timor-Leste e lembramos ainda a seleção do primeiro lusófono ao cargo de secretário-geral da ONU.

Em 2016, a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, Unesco, declarou a falcoaria de Portugal, e de outros 17 países, como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, assim como a olaria negra de Bisalhães, na cidade de Vila Real, no norte de Portugal.

Salvaguarda

O futuro da olaria negra portuguesa está sob ameaça, por isso a Unesco também colocou a arte na lista do patrimônio imaterial com necessidade urgente de salvaguarda.

A participação de Portugal nas Missões de Paz da ONU foi outro tópico abordado neste ano e ministro da Defesa do país afirmou que o reforço da presença militar portuguesa em missões da organização é um sinal de que “Portugal apoia e se compromete com a dimensão do multilateralismo que só as Nações Unidas conseguem ter”.

José Alberto Azeredo Lopes falou com exclusividade à ONU News de Bamaco, quando visitou o contingente luso que integra a Missão das Nações Unidas no Mali, Minusma.

Nova abordagem

“Portugal está envolvido aqui na Minusma. Vai ser iniciada muito em breve a nossa missão na República Centro-Africana. Portanto, esta foi uma aposta muito importante, o regresso às Nações Unidas e ao multilateralismo. Para isso também contribuiu a circunstância de termos percebido que havia uma nova abordagem do peacekeeping (operações de manutenção da paz).”

Portugal contribuiu com mais de 60 militares e uma aeronave C-130 para a missão de paz no país africano, considerada a mais mortífera da ONU. Para José Alberto Azeredo Lopes, o retorno a missões de paz marca o período a seguir à crise financeira no seu país.

Palácio de Queluz, Portugal. Foto: Cortesia de Jeff Alves de Lima

Resultados

Em dezembro deste ano, o Fundo Monetário Internacional, FMI, destacou “resultados económicos mais altos do que eram esperados” em Portugal, após uma atividade relativamente moderada nos últimos dois trimestres. A previsão é que o país tenha um défice orçamental de 2,1% em 2017.

O país europeu foi o melhor colocado entre os lusófonos em um relatório divulgado pela União Internacional das Telecomunicações, UIT, sobre acesso à internet, telecomunicações e uso de telefones celulares em 175 países. Portugal ocupa a 44ª posição. A Coreia do Sul ocupou o primeiro lugar da lista pelo segundo ano consecutivo.

Dois especialistas da ONU para os direitos humanos visitaram Portugal neste ano e se mostraram preocupados com a situação das minorias que vivem no país.

A relatora para o direito à habitação, Leilani Farha, esteve no ao lado do relator para o direito à água e ao saneamento, Léo Heller.

Novos pobres

"A nossa intenção inicial foi examinar o impacto da crise econômica e das medidas de austeridade sobre os direitos e foi possível, de fato, verificar que esse processo conduziu à criação dos chamados novos pobres como se denomina no país. E esses novos pobres, em grande parte, têm problemas de, no campo da água e do saneamento, de acessibilidade financeira."

Em entrevista à ONU News, Heller expressou preocupação com as minorias, como migrantes, afrodescendentes e os povo Roma, ou ciganos.

Segundo ele, foram vistas condições de moradia “deploráveis”, inclusive casos de defecação a céu aberto. Por outro lado, Heller avalia que Portugal conquistou muitos progressos no setor de água e saneamento nas últimas décadas.

O presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa. Foto: ONU/Mark Garten

O presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou que o país está pronto para receber mais refugiados e cooperar com a Europa no socorro daquelas pessoas que são obrigadas a deixar suas casas por causa de conflitos, guerras e perseguição.

Língua

O presidente português falou com a ONU News durante sua participação nos debates da Assembleia Geral, em setembro. Na entrevista, Rebelo de Sousa destacou ainda a promoção da língua portuguesa no mundo. Para ele, esta c deve ser uma tarefa de todos os países que têm o português como idioma oficial.

“Portugal faz tudo que pode, no quadro da sua dimensão, beneficiando de ter uma capacidade ecumênica de diálogo, mas espera, deseja e fica feliz quando os outros Estados irmãos que falam a mesma língua fazem o mesmo porque beneficiamos todos. Não é um benefício de Portugal.”

Para Rebelo de Sousa, a língua é um ativo político e ao promovê-la em várias partes do mundo, os países lusófonos só têm a ganhar.

Timor-Leste

Ensinar o idioma para as gerações futuras, especialmente para a população de áreas rurais, está nos planos do governo de outro país do qual a ONU News acmpanhou momentos marcantes: Timor-Leste.

Segundo o primeiro-ministro timorense, Rui Maria de Araújo, reintroduzir a língua portuguesa no Timor-Leste é um projeto de longo prazo . O país precisa de professores aptos a ensinar o idioma na nação que se tornou independente de Portugal em 1975. Além do português, o tétum é também a língua oficial do país, que tem mais 15 dialetos.

A conversa com a ONU News foi durante a participação do primeiro-ministro na 71ª sessão da Assembleia Geral.

"O que estamos a fazer é trabalhar com os parceiros da Cplp (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), nomeadamente Portugal, Brasil e Cabo Verde, para ver se conseguimos trazer mais professores desses países para formar nossos professores e então, reforçar a disseminação dos professores que dominam a língua para o ensino do português particularmente nas áreas rurais. Estamos a fazer todos os esforços para que nos próximos 10 a 15 anos, o português volte a ser a língua mais falada (em Timor-Leste)."

Bandeira do Timor-Leste. Foto: ONU/Loey Felipe

Mudança

Na ocasião, o Rui Maria de Araújo falou ainda sobre os efeitos da mudança climática em seu país.

“Este ano, por exemplo, Timor-Leste foi afetado pelo El Niño e depois agora, La Niña. Como país insular, estamos muito vulneráveis e isso afeta muito a nossa agricultura. Particularmente tendo em conta que temos 70% da população nas áreas rurais e trabalhando na agricultura, essa mudança climática afeta bastante.”

Em avaliação feita em agosto, o Escritório da ONU para Coordenação de Assistência Humanitária, Ocha, afirmou que o El Niño afetava gravemente mais de 120 mil pessoas em Timor-Leste.

Petróleo

O país foi visitado pelo enviado especial da ONU sobre o El Niño e o Clima, Macharia Kamau.

Timor-Leste atualmente integra a lista de Países Menos Avançandos, mas pode deixar o grupo até 2021. A avaliação é da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, Unctad.

Em dezembro, no entanto, a agência fez um alerta: com a queda do preço do petróleo, a nação corre o risco de não conseguir sair da lista de países menos desenvolvidos do mundo.

A exploração do petróleo beneficiou a população de 1,2 milhão de habitantes, ajudando a diminuir as taxas de mortalidade infantil e a aumentar o índice de alfabetização. Segundo a Unctad, 82% dos jovens timorenses entre 15 a 24 anos são alfabetizados.

A Embaixadora de Boa Vontade Catarina Furtado (à esq.). Foto: Unfpa

Trabalho

Conhecer trabalhos em áreas como educação foi um dos objetivos da visita da embaixadora de Boa Vontade do Fundo da ONU para a População, Unfpa, Catarina Furtado, a diversos países língua portuguesa, inclusive Timor-Leste. A apresentadora portuguesa disse ter voltado inspirada.

“Acabei de regressar de Timor-Leste, da Guiné-Bissau, de Moçambique e de São Tomé e Príncipe onde fui verificar precisamente o trabalho que é feito para as áreas da educação e da saúde. Fui não só verificar projetos de organizações internacionais ou portuguesas mas ver no terreno os projetos que o Fnuap põe em prática nestes países lusófonos. Por isso, trago essa experiência e visão que tento aplicar de alguma forma para promover esses projetos.”

Em entrevista sobre o Dia das Nações Unidas para a Cooperação Sul-Sul, em setembro, o enviado do secretário-geral para a Cooperação Sul-Sul, Jorge Chediek, falou à ONU News sobre vários projetos que têm beneficiado dezenas de milhares de pessoas em alguns países de língua portuguesa.

Conservação

Jorge Chediek contou que centenas de agricultores e pescadores no Timor-Leste também receberam a oportunidade de promover uma agricultura de conservação e melhores técnicas de produção.

O Estado do sudeste asiático foi presidente da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, Cplp, até 31 de outubro. O bloco completou 20 anos em 2016. Durante as comemorações do Dia da Língua Portuguesa e da Cultura, em maio, a embaixadora de Timor-Leste, Milena Pires falou sobre a importância do grupo.

Jorge Chediek. Foto: Rádio ONU

“A Cplp ganha grande importância no mundo de hoje, principalmente porque temos os países membros da Cplp situados em todos os continentes do mundo, na Europa, na Ásia, na África, na América Latina, e eu acho que isso dá-nos uma grande força. Para Timor-Leste, sem dúvidas, a Cplp foi crucial durante a nossa luta pelo autodeterminação. Tivemos um grande apoio dos países irmãos da Cplp. Eu acho que isso fez toda a diferença”.

Candidatura

E na sala da Assembleia Geral, quando o órgão anunciou por aclamação a nomeação de António Guterres como próximo secretário-geral da ONU, a embaixadora timorense falou sobre a expectativa para o mandato do primeiro lusófono a ser chefe da ONU.

“É um grande dia para as nações Unidas, naturalmente para a Cplp e para Portugal também. Para Timor-Leste dado aquilo que tem sido a nossa relação com Portugal. E o papel determinante que o engenheiro António Guterres teve na independência de Timor-Leste penso que é um dia muito especial, foi uma oportunidade para os países da Cplp juntos apoiar esta candidatura que foi do Engenheiro António Guterres. A Cplp só tem a ganhar com esta nomeação.”

António Guterres

António Manuel de Oliveira Guterres nasceu em Lisboa em 30 de abril de 1949.

Ele foi deputado da Assembleia da República, presidente da Assembleia Municipal do Fundão, atuou em política europeia e, em 1995, tornou-se primeiro-ministro de Portugal.
Em 2005, Guterres foi nomeado alto comissário da ONU para Refugiados, cargo que ocupou até 2015.

António Guterres na Assembleia Geral da ONU. Foto: ONU/Eskinder Debebe

Como candidato a secretário-geral, ele apresentou suas propostas aos Estados-membros e em um debate televisivo.

Em 6 de outubro, o Conselho de Segurança das Nações Unidas realizou uma votação formal e, por aclamação, recomendou Guterres ao cargo de novo secretário-geral da ONU. Seu nome foi confirmado pela Assembleia Geral uma semana depois.

Estratégia

Na ocasião, Guterres contou à ONU News qual seria sua primeira estratégia como novo líder da ONU.

"E esta estratégia passa por um impulso muito forte à diplomacia para a paz. Nós assistimos hoje, como disse, a uma multiplicação terrível de conflitos. Os velhos conflitos não terminam. E os conflitos estão ligados não só entre si como ao terrorismo internacional. E por isso é preciso…E o secretário-geral não pode resolver este problema sozinho. Não tem instrumentos de poder para o fazer. Mas é preciso pôr toda a sua capacidade de persuasão como um catalisador, como um construtor de pontes no sentido de levar a que aqueles Estados, que têm influência sobre a situação de conflitos que existem, compreendam que hoje as divisões que possam ter entre si signficam muito pouco face à unidade de interesses que tenham para restabelecer uma segurança coletiva da humanidade".

Na entrevista, Guterres defendeu ainda que "esta unidade de interesse os deve levar a colaborar ativamente para pôr fim aos conflitos trágicos a que estamos a assistir".

António Guterres será secretário-geral da ONU a partir de 1º de janeiro de 2017, por um mandato de cinco anos.

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Fonte: Rádio ONU

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