Quinta-feira, 05 de setembro de 1974. É uma noite agradável em LA, aliás mesmo que caíssem pedras de gelo ou fogo do céu, seria uma noite agradável. Estamos tão doidos que pouco ou nada importa o clima, pois nós já estamos no clima.

Deus vem à nossa cidade hoje, vai descer de sua nave direto no Universal Amphitheatre, e desde cedo cada rua próxima ao número 100 da Universal City Plaza parece respirar David Bowie; plataformas prateadas, raios pelos rostos, cocaína nos narizes…hoje vai ser foda!

É a turnê do Diamond dogs, o disco conceitual do Bowie inspirado no 1984, do Orwell; um lance meio pós-apocalíptico, ao menos na teoria. porque na prática todos sabem que o David tá completamente maluco (de pó), encarnando Haloween Jack, ‘The Real Cool Cat’, e que o álbum é meio que resultado de suas próprias paranóias. Enfim, foda-se tudo isso.

Provavelmente o show será como vem sendo os últimos, cheio daquela pegada R&B/soul. E assim após a introdução começa “1984” e o teatro  vem abaixo, ou eu vou abaixo. A espera finalmente acabou, vejo Bowie ali no palco, com Carlos Alomar, Luther Vandross e cia., e aos primeiros acordes de “Rebel rebel”, seguida por “Moonage daydream”, sou definitivamente arrebatado, ou melhor, abduzido pelo alien de olhos coloridos.

Muitos são os momentos de catarse e crises de choro compulsivo, mas em “Space oddity”, já atordoado e sem saber nem meu nome, me tornei o Major Tom no último passeio pelo espaço, em estado de graça. ‘Can you hear me, ground control? Planet earth is blue, and there’s nothing I can do…’