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Utopia ou realismo?
Socialistas suíços querem reconciliar democracia e economia

Por Marc-André Miserez

especiais: Democracia direta

Ultrapassar o capitalismo. Ideia fundadora da esquerda que o Partido Socialista Suíço quer atualizar, para a promoção de uma economia social, solidária e participativa. Para o economista Reiner Eichenberger, essa posição é simplesmente a de um partido sem ideias.

11 de novembro de 1988: os sindicatos por uma "pausa geral" os 70 anos da greve geral de 1918, a única da história helvética. Na Suíça, se o movimento operário gera a paz do trabalho, o Partido Socialista é mais marcado à esquerda.

11 de novembro de 1988: os sindicatos por uma "pausa geral" os 70 anos da greve geral de 1918, a única da história helvética. Na Suíça, se o movimento operário gera a paz do trabalho, o Partido Socialista é mais marcado à esquerda.

(Keystone)

O recente “não” dos eleitores suíços à terceira reforma fiscal das empresas, julgada muito favorável às maiores empresas, deu asas ao Partido Socialista Suíço (PS), que a havia atacado através do referendo. Daí voltar a colocar na mesa a crítica do capitalismo.

Texto publicado no site #DearDemocracyLink externo, a plataforma sobre a democracia direta da swissinfo.ch.

O recente “não” dos eleitores suíços à terceira reforma fiscal das empresas, julgada muito favorável às maiores empresas, deu asas ao Partido Socialista Suíço (PS), que a havia atacado através do referendo. Daí voltar a colocar na mesa a crítica do capitalismo.

Um pouco antes neste ano, a ONG Oxfam esperou a abertura do Fórum de Davos para publicar seu relatório sobre a pobreza no mundo. Entre as conclusões (mesmo se a interpretação dos números é contestada) que na Suíça também, as desigualdades são extremas: 2% da população detém mais da metade das riquezas. Alguns dias depois a ONG católica Caritas adiantava o número de 530.000 pobresLink externo na Suíça e quase o mesmo número de pessoas em situação precária, geralmente apesar de um emprego.

Sem esperar esses dados, que variam pouco de um ano a outro, o PS havia adotado em seu congresso de dezembro uma posição incluída no programa. “Um futuro para todos, sem privilégios – preparar o advento de uma democracia econômica, no respeito da ecologia e da solidariedade “ Com o intento de orientar a política do partido para os próximos anos, o documento provoca vigorosos debates entre socialistas reformistas e camaradas mais radicais dentro do PS que o site.smartvote.ch note como um dos mais à esquerda da Europa.

O partido reafirma a vontade de “ultrapassar o capitalismo”. Introduzida em seu programa em 2010, sob a pressão de sua ala esquerda e seu movimento jovem. Apelo à revolução proletária? Convenhamos que o conceito é um pouco velho. A ideia é antes de tentar democratizar as empresas, de melhor distribuir o bolo e promover ao mesmo tempo boas condições de trabalho e um respeito maior do meio ambiente. Uma espécie de “luta de classes leve”, como a qualificou o jornal dominical “NZZ am Sonntag”.

“A ideia de ultrapassar o capitalismo não tem nada de novo. PS só insiste mais nisso agora. Isso mostra simplesmente que os socialistas não têm mais ideias construtivas”, opina Reiner Eichenberger, professor de economia na Universidade de Friburgo, conhecido por suas posições francamente liberais.

Outra economia

Deputada e vice-presidente do PS, Barbara Gysi admite que ultrapassar o capitalismo não é uma ideia nova. “Mas isso não quer dizer que ela seja má. Nós tentamos colaborar há 30 anos, mas não funciona. A economia e a sociedade se distanciam cada vez mais. O que queremos é tornar novamente a economia mais humana e para isso estamos convencidos que é preciso mais participação nas empresas”.

Para apoiar sua convicção, o PS lembra que esse tipo de empresa que ele preconiza já existe na Alemanha, por exemplo, ou na França, onde uma lei de incentivo favorece a economia social e solidária (ESS) “representando 10% do PIB nacional, emprega mais de um assalariado em dez e são grandes criadoras de emprego. Desde 2000, enquanto o emprego nas empresas clássicas cresceu de 4,5%, as empresas de ESS criaram 24% de novos empregos”, escreve o ministério francês da Economia.

Na Suíça também “uma outra economia existe”, como afirma em seu site a Câmara da Economia Social e Solidária de Genebra. Mas a participação nas empresas é pequena. É um curioso paradoxo no país da democracia direta que faz da participação política um princípio quase sagrado. “Isso tem certamente a ver com o fato de termos muitas pequenas e médias empresas (PME) com patrões um pouco à maneira antiga”, explica Barbara Gysi. “Quando falo com as pessoas, ouço frequentemente o sentimento que, dentro das empresas, sempre se pode discutir, mas não participar das decisões”, acrescenta.

“E é talvez justamente porque temos mecanismos muito avançados de participação política que não damos muita importância é participação econômica. Também não podemos esquecer que o setor econômico exerce um grande poder no plano político e na sociedade”, prossegue a vice-presidente do PS.

Lei do mercado vs. intervenção do Estado

A participação nas empresas, Reiner Eichenberger não é contra, por princípio. Mas, para ele, ele deve se desenvolver “onde realmente trouxer vantagens”. E já é o que ocorre: “pense nos escritórios de advocacia, ou nas empresas de conselho, onde os parceiros do mesmo peso dirigem as empresas e onde os jovens acabam se tornando sócios. Em um mercado livre, a direção participativa e a cooperação se desenvolvem onde tem sentido e não se desenvolve onde não há. Mas não devemos decidir de cima, como imaginam os socialistas”, afirma o economista.

“Até porque na ideia deles não se trata de dar um direito de participação aos colaboradores, mas aos sindicatos ou, melhor ainda, a representantes do PS”.

Isso parece não atingir Barbara Gysi, mesmo se seu partido é suficientemente realista para saber que a participação não se decreta e que toda intervenção nesse sentido em um Parlamento dominado pela direita tem poucas chances de reunir uma maioria. O que visam os socialistas são também ações “de baixo para cima”: reforçar a participação onde ela já existe, em colaboração com organizações parceiras como os sindicatos. No plano político, toda ação tendo uma chance de dar certo, ou simplesmente suscitar o debate, será tentada. Isso no nível parlamentar e da democracia direta, cujos instrumentos são disponíveis em três níveis: federal, cantonal e municipal.

O grupo de trabalho que elaborou essa tomada de posição se reunirá regulamente para fazer um balanço e a vice-presidente do PS reitera a promessa de seu partido: “a democratização da economia será para nós um tema prioritário nos próximos anos”.

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Adaptação: Claudinê Gonçalves,
swissinfo.ch

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Socialistas suíços querem reconciliar democracia e economia
Marc-André Miserez
20. Março 2017 – 11:00

Ultrapassar o capitalismo. Ideia fundadora da esquerda que o Partido Socialista Suíço quer atualizar, para a promoção de uma economia social, solidária e participativa. Para o economista Reiner Eichenberger, essa posição é simplesmente a de um partido sem ideias.

O recente “não” dos eleitores suíços à terceira reforma fiscal das empresas, julgada muito favorável às maiores empresas, deu asas ao Partido Socialista Suíço (PS), que a havia atacado através do referendo. Daí voltar a colocar na mesa a crítica do capitalismo.

Texto publicado no site #DearDemocracy, a plataforma sobre a democracia direta da swissinfo.ch.

O recente “não” dos eleitores suíços à terceira reforma fiscal das empresas, julgada muito favorável às maiores empresas, deu asas ao Partido Socialista Suíço (PS), que a havia atacado através do referendo. Daí voltar a colocar na mesa a crítica do capitalismo.

Um pouco antes neste ano, a ONG Oxfam esperou a abertura do Fórum de Davos para publicar seu relatório sobre a pobreza no mundo. Entre as conclusões (mesmo se a interpretação dos números é contestada) que na Suíça também, as desigualdades são extremas: 2% da população detém mais da metade das riquezas. Alguns dias depois a ONG católica Caritas adiantava o número de 530.000 pobres na Suíça e quase o mesmo número de pessoas em situação precária, geralmente apesar de um emprego.

Sem esperar esses dados, que variam pouco de um ano a outro, o PS havia adotado em seu congresso de dezembro uma posição incluída no programa. “Um futuro para todos, sem privilégios – preparar o advento de uma democracia econômica, no respeito da ecologia e da solidariedade “ Com o intento de orientar a política do partido para os próximos anos, o documento provoca vigorosos debates entre socialistas reformistas e camaradas mais radicais dentro do PS que o site.smartvote.ch note como um dos mais à esquerda da Europa.

O partido reafirma a vontade de “ultrapassar o capitalismo”. Introduzida em seu programa em 2010, sob a pressão de sua ala esquerda e seu movimento jovem. Apelo à revolução proletária? Convenhamos que o conceito é um pouco velho. A ideia é antes de tentar democratizar as empresas, de melhor distribuir o bolo e promover ao mesmo tempo boas condições de trabalho e um respeito maior do meio ambiente. Uma espécie de “luta de classes leve”, como a qualificou o jornal dominical “NZZ am Sonntag”.

“A ideia de ultrapassar o capitalismo não tem nada de novo. PS só insiste mais nisso agora. Isso mostra simplesmente que os socialistas não têm mais ideias construtivas”, opina Reiner Eichenberger, professor de economia na Universidade de Friburgo, conhecido por suas posições francamente liberais.

Outra economia

Deputada e vice-presidente do PS, Barbara Gysi admite que ultrapassar o capitalismo não é uma ideia nova. “Mas isso não quer dizer que ela seja má. Nós tentamos colaborar há 30 anos, mas não funciona. A economia e a sociedade se distanciam cada vez mais. O que queremos é tornar novamente a economia mais humana e para isso estamos convencidos que é preciso mais participação nas empresas”.

Para apoiar sua convicção, o PS lembra que esse tipo de empresa que ele preconiza já existe na Alemanha, por exemplo, ou na França, onde uma lei de incentivo favorece a economia social e solidária (ESS) “representando 10% do PIB nacional, emprega mais de um assalariado em dez e são grandes criadoras de emprego. Desde 2000, enquanto o emprego nas empresas clássicas cresceu de 4,5%, as empresas de ESS criaram 24% de novos empregos”, escreve o ministério francês da Economia.

Na Suíça também “uma outra economia existe”, como afirma em seu site a Câmara da Economia Social e Solidária de Genebra. Mas a participação nas empresas é pequena. É um curioso paradoxo no país da democracia direta que faz da participação política um princípio quase sagrado. “Isso tem certamente a ver com o fato de termos muitas pequenas e médias empresas (PME) com patrões um pouco à maneira antiga”, explica Barbara Gysi. “Quando falo com as pessoas, ouço frequentemente o sentimento que, dentro das empresas, sempre se pode discutir, mas não participar das decisões”, acrescenta.

“E é talvez justamente porque temos mecanismos muito avançados de participação política que não damos muita importância é participação econômica. Também não podemos esquecer que o setor econômico exerce um grande poder no plano político e na sociedade”, prossegue a vice-presidente do PS.

Lei do mercado vs. intervenção do Estado

A participação nas empresas, Reiner Eichenberger não é contra, por princípio. Mas, para ele, ele deve se desenvolver “onde realmente trouxer vantagens”. E já é o que ocorre: “pense nos escritórios de advocacia, ou nas empresas de conselho, onde os parceiros do mesmo peso dirigem as empresas e onde os jovens acabam se tornando sócios. Em um mercado livre, a direção participativa e a cooperação se desenvolvem onde tem sentido e não se desenvolve onde não há. Mas não devemos decidir de cima, como imaginam os socialistas”, afirma o economista.

“Até porque na ideia deles não se trata de dar um direito de participação aos colaboradores, mas aos sindicatos ou, melhor ainda, a representantes do PS”.

Isso parece não atingir Barbara Gysi, mesmo se seu partido é suficientemente realista para saber que a participação não se decreta e que toda intervenção nesse sentido em um Parlamento dominado pela direita tem poucas chances de reunir uma maioria. O que visam os socialistas são também ações “de baixo para cima”: reforçar a participação onde ela já existe, em colaboração com organizações parceiras como os sindicatos. No plano político, toda ação tendo uma chance de dar certo, ou simplesmente suscitar o debate, será tentada. Isso no nível parlamentar e da democracia direta, cujos instrumentos são disponíveis em três níveis: federal, cantonal e municipal.

O grupo de trabalho que elaborou essa tomada de posição se reunirá regulamente para fazer um balanço e a vice-presidente do PS reitera a promessa de seu partido: “a democratização da economia será para nós um tema prioritário nos próximos anos”.
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