“Com reformas, crescimento do Brasil pode ser maior que 1,6%”, diz presidente do BC

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"Com reformas, crescimento do Brasil pode ser maior que 1,6%", diz presidente do BC

mediaCom reformas, a economia brasileira pode sair mais rápido da recessão.
REUTERS/Paulo Whitaker

Em seminário na Argentina, Ilan Goldfajn também confirmou que a inflação vai para o centro da meta de 4,5% em 2017 e que as reformas são essenciais para acabar com a recessão no Brasil

Márcio Resende, correspondente em Buenos Aires

A poucos dias de divulgar o relatório com a previsão de crescimento para o Brasil em 2017, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, disse que o crescimento econômico no ano que vem será moderado, mas que pode ser mais rápido se as reformas forem aprovadas. "Mas não trabalhamos com esse cenário (de maior crescimento) como base. Apenas como um bônus que, se vier, melhor", frisou.

"Parece-me que o cenário base será o de uma recuperação gradual, mas segura. É possível que as coisas vão mais rápido do que pensamos. Se as reformas forem aprovadas e se houver confiança, talvez haja rebote (de crescimento depois da recessão) mais rápido", avaliou.

Sem revelar o número que será divulgado na semana que vem, Ilan Goldfajn disse concordar com a previsão, para 2017, do mercado (1,3%) e do orçamento (1,6%), de um crescimento moderado da economia. "O problema é que ainda temos um desemprego subindo, temos um ajuste de salários reais e isso ainda vai levar um tempo", observou. "O consumo, portanto, não será o primeiro item que se recupera", concluiu.

Perguntado pela RFI Brasil se o crescimento pode ser superior com as reformas, o presidente do Banco Central considerou que "se tudo correr bem, pode ser mais do que o mercado prevê".

Reformas contra a recessão

Durante palestra nas Jornadas Monetárias e Bancárias, organizadas pelo Banco Central argentino em Buenos Aires, Ilan Goldfajn compartilhou um painel com os colegas dos Bancos Centrais de Chile e Argentina.

Para o presidente do Banco Central, são as reformas que vão acabar com a recessão no Brasil, a partir do aumento da produtividade."Considero que necessitamos avançar na ampla agenda de reformas estruturais, destinadas a incentivar a produtividade e impulsionar o crescimento econômico a longo prazo. Será a produtividade que vai tirar o Brasil da recessão", confia.

Ilan Goldfajn citou as reformas fiscal, previdenciária e do trabalho como essenciais para o processo de crescimento. "A reação do novo governo é o ajuste da reforma fiscal, incluindo o congelamento do teto do gasto. Para que o teto do gasto funcione, são necessárias outras reformas: uma das mais importantes é a reforma da Previdência que deve ser enviada ao Congresso neste ano. Há outras reformas que atuam na produtividade. Por exemplo, a reforma do trabalho que dá mais flexibilidade", explicou Goldfajn, que acrescenta ainda para a receita do crescimento "o esforço grande com investimentos em infraestrutura e com a privatização de vários ativos no Brasil".

Desinflação

Ilan Goldfajn projetou a inflação em 7,3% neste ano e 4,5% no ano que vem. "A meta do próximo ano é um objetivo ambicioso, mas é realista", garantiu.

"No ano passado, a inflação foi de 11% e agora se espera que termine o ano em 7.3%. Para o ano que vem, a meta continua sendo de 4,5%. Quando eu cheguei há dois meses, as expectativas estavam em 5,5% para 2017. Hoje estão mais próximas de 5%, na metade do caminho para 4,5%", explicou, indicando que a cifra será a mesma para os próximos anos, mesmo quando oficialmente já haja previsão até 2018.

"E nos anos de 2018, 2019 e, daí por diante, a expectativa já está ancorada na meta de 4.5%", projetou. "Estamos com uma desinflação importante", definiu.

Para o presidente do Banco Central, a inflação de quase 11% de 2015 "foi consequência de uma política que terminou". "Uma política que levou a um choque de preços regulados, a uma forte desvalorização cambiária e a uma forte falta de confiança dos agentes econômicos", interpreta.

Ilan Goldfajn, presidente do Banco Central do Brasil.
REUTERS/Adriano Machado

Oportunidade para ajustes
Ilan Goldfajn definiu ajustes e reformas como "muito importantes para a desinflação" e considerou que a América Latina está diante de uma oportunidade de ajuste econômico.

"As economias da América Latina devem tirar proveito dessa janela de oportunidade para reformar e para ajustar as suas economias. É o momento de enfocar nos nossos problemas", apontou.

Segundo Goldfajn, "a economia mundial está experimentando uma transição a um novo estado de equilíbrio". Essa transição está marcada por "uma abundância de liquidez e por uma lenta recuperação do crescimento das principais economias".

"Da perspectiva dos mercados emergentes, é um período benigno porque há uma abundância de liquidez que favorece o financiamento das economias emergentes", acredita Goldfajn, que listou as ações que devem ser adotadas no caso brasileiro: "No Brasil, nessa janela de oportunidade, vejo como imperativas as ações destinadas a reconstruir o balanço do setor público, recompondo o espaço fiscal, através da redução e racionalização dos gastos para pôr a dinâmica da dívida em ordem".

O presidente do Banco Central entende que as políticas internas aplicadas pelo governo anterior pioraram o impacto da queda do valor das matérias primas. "No Brasil, as políticas internas maximizaram o choque externo da queda das commodities por três grandes motivos: aumento indiscriminado do gasto público que nos puseram neste problema de dívida, congelamento de preços com aumento dos preços regulados em 2015 e excesso de intervenção na economia", enumera.

A palestra foi apresentada por Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central do Brasil entre 1999-2003, período em que Ilan Goldfajn foi diretor do Banco Central. Para concluir o painel, Armínio Fraga deu a sua visão sobre necessidade de um ajuste: "Incomoda-me quando ouço comentários relacionados com uma 'taxa de sacrifício' num contexto em que o populismo continua por perto, em particular no Brasil e na Argentina. Deixe-me dizer-lhes uma coisa: não há sacrifício. Se não houver ajuste, as coisas vão piorar, com certeza", avisou.

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Fonte: Rádio França Internacional

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